ranzinza

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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

IDEIAS MAIS SUICIDAS DO QUE NUNCA


Tenho tido uma vontade genuína de me suicidar. Ao mesmo tempo tenho ficado um pouco apreensivo com isso. O que pode parecer contraditório (desejar morrer e ter medo de desejar morrer), mas não é, porque ao mesmo tempo que estou racionalmente desejando pular de uma janela do vigésimo andar, sei que estou desejando pular de uma janela do vigésimo andar. 
Ontem foi a formatura da Allana da pós graduação que ela fez na EMAP (Escola de Magistratura do Paraná), no vigésimo andar de um dos prédios do Tribunal de Justiça do Paraná, o tal do Pleno do TJ, que fica no Centro Cívico. Na cerimônia, bastante concisa, estavam desembargadores, juízes e jovens que querem ser juízes. E a certa altura dos discursos que formavam a cerimônia resolvi sair um pouco, tomar uma água e acabei vendo pela janela o pôr do sol acontecendo (conforme a foto abaixo), ao mesmo tempo que vi o sol queimando sem brilho descendo na linha do horizonte, achei tão lindo, e ao mesmo tempo eu quis pular dali. Senti um vazio sem tristeza, uma falta de perspectiva e conexão, mas não eram sentimentos particulares, parece que eu tenho sentido isso em relação a todos, tenho projetado um descompasso no mundo, tenho interpretado o caos das relações como coisa sem beleza. Por isso pensado agudamente em suicídio em momentos ímpares. O suicídio sempre foi uma realidade pra mim, não sou religioso, mas sempre vi isso como algo que não faz sentido no fim das contas, mas agora sequer tenho tido aquela piedade do sofrimento que algumas pessoas vão ter por eu morrer, mesmo minha mãe, a vontade de suicídio tem se sobreposto a todas essas coisas, inclusive nem carta tenho tido vontade de deixar, é um sentimento de suicídio bastante espontâneo, que, como disse, ao mesmo tempo me assusta um tanto.
[ponto]
Dizendo de maneira prática, isto se dá por muitos aspectos:

A Allana quer, a qualquer custo, morar comigo ano que vem. Segundo ela, não há como nossa relação continuar se não dermos este passo na relação. Mas eu não quero isto, não tenho vontade de morar com ela, sei que minha vida não vai ser boa, especialmente porque gosto e valorizo muito estar sozinho. Também sei que temos inúmeras diferenças e morar com ea vai ser difícil. Então, só há um fim de relacionamento pra gente, ou eu me colocando em um situação que definitivamente não quero, não me vejo, não me sinto a vontade para debater.

Estar no horizonte ir morar com a Allana coloca no horizonte também abandonar a minha mãe, e ter que me relacionar com o meu maior trauma que é a morte/ abandono parental. Então no meu dia a dia estou olhando para a minha mãe como uma pessoa já abandonada, envelhecida, adoecida. O que me faz ter saudades, saudades que se ampliam para divagações extremas sobre o passado, as quais há mais de ano tento bloquear. 

Mas estar próximo demais da minha mãe também me faz mal. O espaço que ela ocupa me impede de relaxar. Apesar de toda a comodidade dos serviços todos que ela faz, eu acabo não fazendo escolhas, não tendo liberdade.

Estando muito conectado com minha mãe fico dependente dos humores dela, por isso tento zelar pelo sono dela, de forma que qualquer barulho noturno me assusta, há muito tempo ela dorme bem aqui nesse apartamento, mas eu fico escutando barulhos a noite toda, ruídos, arrastos, batidas, passos, latidos, que me angustiam, que acabam me incomodando demais. Além de que este apartamento é gelado, ele está em um lugar alto e tem muitas janelas, enquanto eu já sou sensível ao frio. Então minha casa não é lugar de acolhimento.

Não tenho amigos em Curitiba. Allana se tornou minha amiga, mas ela é uma namorada, o que não a torna uma melhor amiga. Me sinto deslocado aqui. Sozinho. Solitário.

Tenho "procrastinado" nas últimas semanas a escrita da minha tese. Depois de boas semanas de escrita proveitosa, apesar de confusa, nas últimas duas ou três semanas não voltei mais ao texto. E esse é o ponto alto dos meus objetivos atuais, fazer minha tese, terminar meu doutorado, e isso deslocou-se um pouco. Isso aconteceu um pouco porque me dei conta que ainda tenho dois anos para escrever a tese, então relaxei um pouco.

Mas coloquei "procrastinado" entre aspas porque na verdade tenho estado sobrecarregado de trabalho, fechamento de médias, elaboração de recuperações, leituras de TCCs, participação em bancas, entre outros, me fizeram deixar o doutorado de lado um pouco, o que me gera culpa e tira o sentido do trabalho de certa forma. 

Fez frio nos últimos dias. É DEZEMBRO e esteve frio, com chuva, sem sol em momento nenhum. Curitiba é recheada de pobreza e abandono. É incrível o sentimento feliz que vem para o meu peito quando tem sol e faz calor. Hoje fez sol, fez calor, mas estive com os pés gelados aqui dentro desse apartamento de merda. Eu preciso urgentemente sair daqui. 

O último livro que li foi o Ioga do Emanuel Carrére, em que o escritor/personagem entra numa depressão profunda, é internado, e relata a vida dos buracos da tristeza. Não sei até que ponto essa energia me acometeu. Porque sei que a literatura entra em mim. 

Há outras coisas também. Mas são menores. Vou tentar descansar nos próximos dias. Mas também me incomoda que quero ficar um pouco só, e um pouco com minha namorada e um pouco com minha mãe, e um pouco com meus amigos, mas quero ficar só, e parece tão difícil poder ficar só sem sentir algum tipo de culpa...

Enfim, acho que não vai acontecer, mas pode ser que eu me mate antes de escrever de novo aqui. Porque estou sob pressão, mas há ainda alguma perspectiva, porque tenho emprego e algum dinheiro. Mas a vontade de me suicidar tem sido palpável, tem acontecido, se manifestado com veemência. Não quero considerar nada sobre minha vida. Ela é o que é, foi o que foi, não quero que sofram por piedade de mim. Quero é que não sofram, que sigam fazendo suas coisas, que vivam suas vidas como têm vivido e alcancem o que puderem, não tenho saco pra pensar no vai e vem de choro lamentação daí continuação da vida, e recomeço de ciclos e essa coisa toda. Pulem a etapa de terem piedade de mim, se possível nem comentem nada. 

  

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

MINHA LEITURA DE "PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR"

 Estava lendo os posts abaixo, e no de título Cidades Invisíveis escrevi que queria ler este livro, assim como queria ler o Primeira Pessoa do Singular, do Murakami e falei que estava com saudades do meu irmão, e estava apreensivo sobre o resultado do processo seletivo da UTFPR. 

Sobre a UTFPR eu já escrevi sobre como fui aprovado e estou me encaminhando para o fim desse primeiro semestre de trabalho lá. Também fiz uma leitura muito boa do livro do Italo Calvino, assim como já comprei e já li o livro do Murakami, para o qual eu daria notas altas se fosse um avaliador de livros. Eu consigo compreender as sensibilidades do que está posto lá, as sutilezas das relações que alegram e entristecem, as expectativas e os mistérios as incertezas e os sonhos, mas que no fim das contas são a própria vida acontecendo, e esta abordagem de se viver no mundo de um jeito curioso para o que não é comum, mas está normalizado, eu gostei muito. Gostaria de poder ler em japonês, no original, porque os contos estão deslizando sobre algo que me parece especialmente musical (Murakami é muito fã de jazz), e tive a sensação de que essa musicalidade da linguagem sempre é matéria fundamental da construção da matéria narrada. Afinal, a boa linguagem tem ritmo, compassos, sonoridade e mexe com nossa adrenalina e nossas ansiedades, como é a música. Inclusive, a música é da matéria do espacial, ela se expande, vibra, alcança, e a literatura está na matéria do temporal, ela se estende, se mantém, sobrevive. Nisso música e literatura são diferentes, mas não antagônicas, porque a nossa experiência do tempo só se dá a partir da nossa observação do espaço, assim como o espaço só se nota por meio do tempo. Posso dizer então que existe uma simbiose meio inevitável entre música e literatura, talvez daí o encanto que a escrita do Murakami (um amante de músicas) causa. 

Acho que estou tentando dizer que os contos de Primeira Pessoa do Singular são sensoriais, que lá tem brisas de outono, cheiros de estádios de beisebol, descrição de uma música composta pelos Beatles que nunca existiu, assim como a proposta de uma Bossa Nova tocada por Charlie Parker ou um macaco-humano peludo lavando as costas do narrador em um ofurô. Eu gosto disso. Porque a vida só não basta, a literatura está aí pra isso, pra fazer a gente mais feliz, ou menos triste. E eu fiquei bem lendo essas memórias do autor, claro, enquanto leitor eu estou vivendo situações interessantes a partir de um lugar seguro, não foi o meu corpo que subiu uma montanha pra ver um concerto que tinha sido cancelado, ler sobre isso é mais confortável do que viver isso, mas é por isso mesmo que eu gosto de ler, porque não quero ficar me fodendo exatamente para conhecer o mundo, Murakami conseguiu me dar, seguramente, boas experiências.                 

terça-feira, 22 de agosto de 2023

EU ESTOU AQUI AGORA

 A felicidade não está em outro lugar, em um outro momento ou em outras coisas. A felicidade está aqui agora. 

Não sei se trouxe a informação pra cá, mas passei no processo da UTFPR e voltei a ser professor lá, algo com que sonhei muito, desejei muito. Já assumi as funções faz mais de uma semana, minhas terças-feiras (hoje) estão pesadíssimas, saio de casa às 7h e paro de trabalhar as 21h30. Na primeira aula da manhã, eu estava um pouco fatigado, já pelo tamanho que seria o dia, e perguntei aos alunos como eles estavam se sentindo hoje em uma escala de zero a dez, e o José Aldo, um aluno mais velho, falou que estava dez - por quê? - porque eu estou aqui hoje, agora. Essa resposta me pegou, eu acho que saiu um pouco daquelas lágrimas que saem dos meus olhos quando vejo algo bonito. Logo depois chegou na sala um aluno chamado Leonardo, ele estuda o criolo haitiano, e quando perguntei como ele estava hoje, ele falou 10, porque ele estava aqui e agora e neste momento. 

O dia foi muito bonito. Com sol. Há alguns dias só fazia frio e nublado. Agora a pouco, tomando banho, ao fim de todas as minhas obrigações, pensei no quanto eles dois estavam certos. É muito bom estar aqui, agora, assim. Ter o que eu tenho, ser o que eu sou, viver o que eu vivo. O melhor não está lá, ou depois, em algo que preciso alcançar, eu estou 10 de 10. Por muito tempo eu sonhei com hoje, e agora estou aqui. Tenho talento, tenho tempo, tenho dinheiro. 

Ontem mesmo eu estava perturbado por ter consciência de que algum sia vou sentir saudades de tudo e todos, isso é muito ruim, mas isso é porque agora está ótimo e eu estou feliz. Fico pensando em quando minha mãe não estiver mais aqui, quando minha namorada não for mais minha parceira, quando tudo for um grande espectro do que já foi, mas isso é uma grande sabotagem da felicidade que é ser aqui agora.

Estou tomado por um sorriso e um ânimo que veio para substituir algum cansaço entreossos existencial. Algo que talvez eu nunca tenha sentido na vida.


sexta-feira, 7 de julho de 2023

CÓDIGOS ÍNTIMOS E MUNDO EMPÍRICO

 Acho que ando cansado, mas não sei se é bem esse o caso. Uma das coisas que Cidades Invisíveis me acomete é pensar a realidade a partir do que é a fantasia, o impacto da fantasia no bruto. Também tenho meditado bastante nos últimos dias. 

Estou pensando que sonhar talvez seja parte do estar acordado. Eu leio, escrevo, penso, medito, vejo vídeos, penso e converso com minha namorada, mas há sempre (ao fundo) uma insatisfação, a qual ao mesmo tempo é o motivo e a consequência dessa imersão nesse mundo do irreal: eu sinto falta de ver as coisas fora da caverna, mas quando as encaro quero voltar para a caverna (busco a linguagem para superar a realidade e me distancio dela, e por me distanciar dela me sinto insatisfeito e volto a busca-la, e quando a vejo quero me distanciar dela). 

Não gosto desse processo, ele está me fazendo sofrer, entretanto, estou encontrando um ponto de aceitação da realidade como processo fenomenológico, um entre-lugar, área cinza, entre meus códigos íntimos e o mundo empírico. Estou gostando de pensar que os sonhos tomam a maior parte do meu tempo acordado, e que eles são inúteis, mas que sem eles não há sentido em nada, nem em levar o garfo à boca.  

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Uma concepção do indizível

 Existem tantas coisas no espaço do indizível, é claro, as palavras só fingem dar conta da vida. Além disso, se está no indizível também está no incontável: não se pode ter noção do quanto está fora do nosso alcance da comunicação. Pensei nisso em trecho específico de Cidades Invisíveis em que Khan começa a gesticular menos com Marco Polo e seus gestos são descritos como coisas espirituais apenas. Afinal, não é isso que é um gesto?  Uma efemeridade de algo que não pode ser dito?! Não penso em beijos, danças ou sustos, penso mais no que acontece de espontâneo e ainda não pode ser mapeado por teorias ou arranjos. Penso mais em uma mão que coça a outra, a ansiedade dos pares de olhos, os tiques da cabeça.

Não sei se gosto de chamar essas expressões do indizível de espiritualidade. Porque não acredito em Deus. Não acredito em espírito. Não quero jogar esse meu raciocínio no banal de termos como deus, amor, espírito. 

Essa concepção do indizível, então, não vem a termo, e se viesse não seria mais indizível, por isso nem quero que venha, mas quero escrever sobre isso. Saber que há mundo além do horizonte da língua me faz ver a vida de um jeito mais interessante, me dá um pouco de sabor. Eu, melhor amigo do suicídio, gosto desse silêncio verdadeiro que coexiste à vida barulhenta. 

Sim, é disso que eu gosto no fim das contas, do abstrato estranho, da função irracional (não o selvagem, mas o irracional inteligente, a intuição com propósito), da saga sem moral, da contemplação sem o excesso. Gosto da elegância, não a elegância com preço alto ou a valorização da pobreza, gosto da elegância da sinceridade, que pode ser encontrada numa pessoa de pé no ônibus, o jeito de ela olhar para fora. Eu gosto disso, que é um pouco o resultado da coragem de morrer e colocar isso na ponta dos dedos todo dia.     

segunda-feira, 3 de julho de 2023

CIDADES INVISÍVEIS

Ontem (domingo) a noite, corri 10km em 54'

Nem todo dia faz sol (é óbvio), e eu preciso lidar melhor com isso, tenho ficado bastante desmotivado quando está nublado. 

A chave é não projetar um dia perfeito, mas focar no que deve ser feito. Acho que percebi isso durante uma meditação meio espontânea que fiz outro dia na academia depois de um momento de exaustão: preciso aceitar mais a vida como um processo, um grande meio, o desenvolvimento por si só, não como um fim. Quem sabe com isso eu tenha menos dificuldades para tomar decisões. Com essa visão de que as pequenas coisas não são definitivas, quem sabe eu não sinta tanta derrota caso o dia não esteja ensolarado. 

Hoje é um desses dias. Hoje também é um dia em que sai o resultado do processo seletivo da UTFPR a que me submeti no mês passado, ao qual fui o único candidato inscrito, o que me coloca com uma muito provável aprovação (estou atualizando a página do site constantemente). Hoje também é o primeiro dia de uma semana em que não tenho que estudar para nenhuma prova específica e também não tenho matérias do doutorado para ler, portanto é um dia que resolvi ficar calmo, é um novo dia, um dia para novos dias. 

Embora eu tenha que ler algumas coisas para terminar o trabalho que vou escrever para a disciplina do doutorado*, resolvi baixar o Cidades Invisíveis do Ítalo Calvino para ler, quero fazer uma leitura de prazer sem ter obrigação (embora eu quisesse mesmo era ler o Primeira Pessoa do singular, novo livro de contos do Murakami). 

Então resolvi escrever para registrar que estou bem, não quero retomar esse espaço de registro apenas nos momentos de angústia. Hoje é um bom dia, apesar de coisas que me perturbam** hoje ainda é um dia que estou querendo viver, sem muita aceleração, com boas quantias de contemplação do espaço, flexibilidade do corpo, curiosidade da cabeça.


* Já escrevi cinco páginas em que analiso, comparativamente, como os personagens de Os Ratos, de Dyonélio Machado, e os personagens de Vidas Secas, relacionam-se e modulam-se, conforme os seus espaços. Utilizo uma linguagem da geografia humanística (Milton Santos e Anne Buttimer) para conceituar espaço/lugar e casa/lar e racionalizar a formação dos personagens.       

** Esses dias vi um story do meu irmão no whatsapp batendo um bolo com uma batedetira improvisada em uma furadeira, tive saudades dele. Acho que essa saudade ativou um sentimento de solidão de viver em Curitiba, desde então tenho sonhado com amigos e pessoas próximas, e tenho acordado com saudade e solitário.