Tenho tido uma vontade genuína de me suicidar. Ao mesmo tempo tenho ficado um pouco apreensivo com isso. O que pode parecer contraditório (desejar morrer e ter medo de desejar morrer), mas não é, porque ao mesmo tempo que estou racionalmente desejando pular de uma janela do vigésimo andar, sei que estou desejando pular de uma janela do vigésimo andar.
:
ranzinza
quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
IDEIAS MAIS SUICIDAS DO QUE NUNCA
Tenho tido uma vontade genuína de me suicidar. Ao mesmo tempo tenho ficado um pouco apreensivo com isso. O que pode parecer contraditório (desejar morrer e ter medo de desejar morrer), mas não é, porque ao mesmo tempo que estou racionalmente desejando pular de uma janela do vigésimo andar, sei que estou desejando pular de uma janela do vigésimo andar.
sexta-feira, 10 de novembro de 2023
MINHA LEITURA DE "PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR"
Estava lendo os posts abaixo, e no de título Cidades Invisíveis escrevi que queria ler este livro, assim como queria ler o Primeira Pessoa do Singular, do Murakami e falei que estava com saudades do meu irmão, e estava apreensivo sobre o resultado do processo seletivo da UTFPR.
Sobre a UTFPR eu já escrevi sobre como fui aprovado e estou me encaminhando para o fim desse primeiro semestre de trabalho lá. Também fiz uma leitura muito boa do livro do Italo Calvino, assim como já comprei e já li o livro do Murakami, para o qual eu daria notas altas se fosse um avaliador de livros. Eu consigo compreender as sensibilidades do que está posto lá, as sutilezas das relações que alegram e entristecem, as expectativas e os mistérios as incertezas e os sonhos, mas que no fim das contas são a própria vida acontecendo, e esta abordagem de se viver no mundo de um jeito curioso para o que não é comum, mas está normalizado, eu gostei muito. Gostaria de poder ler em japonês, no original, porque os contos estão deslizando sobre algo que me parece especialmente musical (Murakami é muito fã de jazz), e tive a sensação de que essa musicalidade da linguagem sempre é matéria fundamental da construção da matéria narrada. Afinal, a boa linguagem tem ritmo, compassos, sonoridade e mexe com nossa adrenalina e nossas ansiedades, como é a música. Inclusive, a música é da matéria do espacial, ela se expande, vibra, alcança, e a literatura está na matéria do temporal, ela se estende, se mantém, sobrevive. Nisso música e literatura são diferentes, mas não antagônicas, porque a nossa experiência do tempo só se dá a partir da nossa observação do espaço, assim como o espaço só se nota por meio do tempo. Posso dizer então que existe uma simbiose meio inevitável entre música e literatura, talvez daí o encanto que a escrita do Murakami (um amante de músicas) causa.
Acho que estou tentando dizer que os contos de Primeira Pessoa do Singular são sensoriais, que lá tem brisas de outono, cheiros de estádios de beisebol, descrição de uma música composta pelos Beatles que nunca existiu, assim como a proposta de uma Bossa Nova tocada por Charlie Parker ou um macaco-humano peludo lavando as costas do narrador em um ofurô. Eu gosto disso. Porque a vida só não basta, a literatura está aí pra isso, pra fazer a gente mais feliz, ou menos triste. E eu fiquei bem lendo essas memórias do autor, claro, enquanto leitor eu estou vivendo situações interessantes a partir de um lugar seguro, não foi o meu corpo que subiu uma montanha pra ver um concerto que tinha sido cancelado, ler sobre isso é mais confortável do que viver isso, mas é por isso mesmo que eu gosto de ler, porque não quero ficar me fodendo exatamente para conhecer o mundo, Murakami conseguiu me dar, seguramente, boas experiências.
terça-feira, 22 de agosto de 2023
EU ESTOU AQUI AGORA
A felicidade não está em outro lugar, em um outro momento ou em outras coisas. A felicidade está aqui agora.
Não sei se trouxe a informação pra cá, mas passei no processo da UTFPR e voltei a ser professor lá, algo com que sonhei muito, desejei muito. Já assumi as funções faz mais de uma semana, minhas terças-feiras (hoje) estão pesadíssimas, saio de casa às 7h e paro de trabalhar as 21h30. Na primeira aula da manhã, eu estava um pouco fatigado, já pelo tamanho que seria o dia, e perguntei aos alunos como eles estavam se sentindo hoje em uma escala de zero a dez, e o José Aldo, um aluno mais velho, falou que estava dez - por quê? - porque eu estou aqui hoje, agora. Essa resposta me pegou, eu acho que saiu um pouco daquelas lágrimas que saem dos meus olhos quando vejo algo bonito. Logo depois chegou na sala um aluno chamado Leonardo, ele estuda o criolo haitiano, e quando perguntei como ele estava hoje, ele falou 10, porque ele estava aqui e agora e neste momento.
O dia foi muito bonito. Com sol. Há alguns dias só fazia frio e nublado. Agora a pouco, tomando banho, ao fim de todas as minhas obrigações, pensei no quanto eles dois estavam certos. É muito bom estar aqui, agora, assim. Ter o que eu tenho, ser o que eu sou, viver o que eu vivo. O melhor não está lá, ou depois, em algo que preciso alcançar, eu estou 10 de 10. Por muito tempo eu sonhei com hoje, e agora estou aqui. Tenho talento, tenho tempo, tenho dinheiro.
Ontem mesmo eu estava perturbado por ter consciência de que algum sia vou sentir saudades de tudo e todos, isso é muito ruim, mas isso é porque agora está ótimo e eu estou feliz. Fico pensando em quando minha mãe não estiver mais aqui, quando minha namorada não for mais minha parceira, quando tudo for um grande espectro do que já foi, mas isso é uma grande sabotagem da felicidade que é ser aqui agora.
Estou tomado por um sorriso e um ânimo que veio para substituir algum cansaço entreossos existencial. Algo que talvez eu nunca tenha sentido na vida.
sexta-feira, 7 de julho de 2023
CÓDIGOS ÍNTIMOS E MUNDO EMPÍRICO
Acho que ando cansado, mas não sei se é bem esse o caso. Uma das coisas que Cidades Invisíveis me acomete é pensar a realidade a partir do que é a fantasia, o impacto da fantasia no bruto. Também tenho meditado bastante nos últimos dias.
Estou pensando que sonhar talvez seja parte do estar acordado. Eu leio, escrevo, penso, medito, vejo vídeos, penso e converso com minha namorada, mas há sempre (ao fundo) uma insatisfação, a qual ao mesmo tempo é o motivo e a consequência dessa imersão nesse mundo do irreal: eu sinto falta de ver as coisas fora da caverna, mas quando as encaro quero voltar para a caverna (busco a linguagem para superar a realidade e me distancio dela, e por me distanciar dela me sinto insatisfeito e volto a busca-la, e quando a vejo quero me distanciar dela).
Não gosto desse processo, ele está me fazendo sofrer, entretanto, estou encontrando um ponto de aceitação da realidade como processo fenomenológico, um entre-lugar, área cinza, entre meus códigos íntimos e o mundo empírico. Estou gostando de pensar que os sonhos tomam a maior parte do meu tempo acordado, e que eles são inúteis, mas que sem eles não há sentido em nada, nem em levar o garfo à boca.
quarta-feira, 5 de julho de 2023
Uma concepção do indizível
Existem tantas coisas no espaço do indizível, é claro, as palavras só fingem dar conta da vida. Além disso, se está no indizível também está no incontável: não se pode ter noção do quanto está fora do nosso alcance da comunicação. Pensei nisso em trecho específico de Cidades Invisíveis em que Khan começa a gesticular menos com Marco Polo e seus gestos são descritos como coisas espirituais apenas. Afinal, não é isso que é um gesto? Uma efemeridade de algo que não pode ser dito?! Não penso em beijos, danças ou sustos, penso mais no que acontece de espontâneo e ainda não pode ser mapeado por teorias ou arranjos. Penso mais em uma mão que coça a outra, a ansiedade dos pares de olhos, os tiques da cabeça.
Não sei se gosto de chamar essas expressões do indizível de espiritualidade. Porque não acredito em Deus. Não acredito em espírito. Não quero jogar esse meu raciocínio no banal de termos como deus, amor, espírito.
Essa concepção do indizível, então, não vem a termo, e se viesse não seria mais indizível, por isso nem quero que venha, mas quero escrever sobre isso. Saber que há mundo além do horizonte da língua me faz ver a vida de um jeito mais interessante, me dá um pouco de sabor. Eu, melhor amigo do suicídio, gosto desse silêncio verdadeiro que coexiste à vida barulhenta.
Sim, é disso que eu gosto no fim das contas, do abstrato estranho, da função irracional (não o selvagem, mas o irracional inteligente, a intuição com propósito), da saga sem moral, da contemplação sem o excesso. Gosto da elegância, não a elegância com preço alto ou a valorização da pobreza, gosto da elegância da sinceridade, que pode ser encontrada numa pessoa de pé no ônibus, o jeito de ela olhar para fora. Eu gosto disso, que é um pouco o resultado da coragem de morrer e colocar isso na ponta dos dedos todo dia.
segunda-feira, 3 de julho de 2023
CIDADES INVISÍVEIS
Ontem (domingo) a noite, corri 10km em 54' |
Nem todo dia faz sol (é óbvio), e eu preciso lidar melhor com isso, tenho ficado bastante desmotivado quando está nublado.
A chave é não projetar um dia perfeito, mas focar no que deve ser feito. Acho que percebi isso durante uma meditação meio espontânea que fiz outro dia na academia depois de um momento de exaustão: preciso aceitar mais a vida como um processo, um grande meio, o desenvolvimento por si só, não como um fim. Quem sabe com isso eu tenha menos dificuldades para tomar decisões. Com essa visão de que as pequenas coisas não são definitivas, quem sabe eu não sinta tanta derrota caso o dia não esteja ensolarado.
Hoje é um desses dias. Hoje também é um dia em que sai o resultado do processo seletivo da UTFPR a que me submeti no mês passado, ao qual fui o único candidato inscrito, o que me coloca com uma muito provável aprovação (estou atualizando a página do site constantemente). Hoje também é o primeiro dia de uma semana em que não tenho que estudar para nenhuma prova específica e também não tenho matérias do doutorado para ler, portanto é um dia que resolvi ficar calmo, é um novo dia, um dia para novos dias.
Embora eu tenha que ler algumas coisas para terminar o trabalho que vou escrever para a disciplina do doutorado*, resolvi baixar o Cidades Invisíveis do Ítalo Calvino para ler, quero fazer uma leitura de prazer sem ter obrigação (embora eu quisesse mesmo era ler o Primeira Pessoa do singular, novo livro de contos do Murakami).
Então resolvi escrever para registrar que estou bem, não quero retomar esse espaço de registro apenas nos momentos de angústia. Hoje é um bom dia, apesar de coisas que me perturbam** hoje ainda é um dia que estou querendo viver, sem muita aceleração, com boas quantias de contemplação do espaço, flexibilidade do corpo, curiosidade da cabeça.
* Já escrevi cinco páginas em que analiso, comparativamente, como os personagens de Os Ratos, de Dyonélio Machado, e os personagens de Vidas Secas, relacionam-se e modulam-se, conforme os seus espaços. Utilizo uma linguagem da geografia humanística (Milton Santos e Anne Buttimer) para conceituar espaço/lugar e casa/lar e racionalizar a formação dos personagens.
** Esses dias vi um story do meu irmão no whatsapp batendo um bolo com uma batedetira improvisada em uma furadeira, tive saudades dele. Acho que essa saudade ativou um sentimento de solidão de viver em Curitiba, desde então tenho sonhado com amigos e pessoas próximas, e tenho acordado com saudade e solitário.